Revolta no <em>Labour</em>
Um dia após a demissão de oito membros do governo em sinal de protesto contra o primeiro-ministro britânico, Tony Blair confirmou, na quinta-feira, 7, que abandonará as actuais funções já ano próximo ano.
Tony Blair deixa os trabalhistas à beira do desastre eleitoral
Com este anúncio, o enfraquecido líder dos trabalhistas britânicos esperava acalmar as hostes partidárias que há muito manifestam o seu alarme com a descida a pique nas sondagens e acusam o primeiro-ministro de atrasar a sua substituição, dificultando uma eventual recuperação para as próximas legislativas de 2010.
Logo a seguir à histórica conquista do terceiro mandato, em 2005, Tony Blair declarou que não seria candidato a um quarta legislatura. Desde então que se esperava a sua saída e muitos, cansados de esperar, exigem agora uma clarificação, receando o descalabro nas eleições regionais na Escócia e Gales e nas municipais em Inglaterra, ambas previstas para o próximo ano.
É certo que também desta vez Blair não indicou nenhuma data concreta. Contudo, não só admitiu que a decisão será tomada no próximo ano, como acrescentou que o próximo congresso anual dos trabalhistas, que terá lugar em 24 e 28 de Setembro em Manchester (noroeste da Inglaterra), será o «último» a que assistirá enquanto chefe do Governo e do seu partido.
Para alguns jornais foi o suficiente para especularem quanto a uma data provável para a renúncia. O diário The Sun não tem dúvidas de que ela ocorrerá em 31 de Maio, no que respeita à liderança do partido. Já em relação às funções de primeiro-ministro, aponta o dia 26 de Julho, no encerramento do parlamento, quando se completarão 10 anos e três meses da chegada de Blair ao Governo, em 2 de Maio de 1997. Hipóteses semelhantes são formuladas por outros jornais, todos dando como certo que a demissão só terá lugar após as eleições regionais e locais do próximo ano.
«Guerra» iminente
Também dado como certo, desde há muito, é que o seu sucessor será o ministro das Finanças, Gordon Brown. Contudo, o desejo que este já deixou transparecer várias vezes de que desejaria ter mais tempo para demonstrar as suas qualidades como primeiro-ministro tem azedado as relações com Blair, ao mesmo tempo que se têm extremado as posições entre os seus apoiantes e os blairistas, que já ameaçam lançar candidatos alternativos ao chanceler do tesouro, como John Reid, ministro do Interior, ou Alan Jonhson, secretário da Educação.
Entretanto, a demissão de oito membros do governo, na quarta-feira, dia 6, onde se incluíram o subsecretário de Estado da Defesa, Tom Watson, e outros sete detentores de cargos menores, em ruptura com a liderança de Blair, não pode ser vista como um simples acto isolado, mas antes como o prenúncio de uma «guerra» iminente pela direcção do New Labour, que poderá determinar o afastamento forçado do líder trabalhista, à semelhança do que aconteceu com Margaret Thatcher em 1990.
O futuro dos trabalhistas está no entanto longe de ficar resolvido com uma mera sucessão na liderança do partido e do governo, já que não é plausível atribuir o trambolhão nas sondagens apenas à indefinição de Blair e às dissensões internas.
As políticas liberais conduzidas ao longo de uma década pelos trabalhistas, com base no projecto da chamada «terceira via» desenvolvido por Blair e os seus correligionários, não corresponderam às aspirações dos britânicos nem resolveram os problemas sociais produzidos e agravados pela experiência traumática dos governos conservadores da senhora Thatcher.
A isto soma-se o forte movimento cívico contra a guerra e a condenação geral da opinião pública britânica ao alinhamento do governo como a política de agressão dos Estados Unidos. Por último, refira-se ainda que as alterações introduzidas na legislação, a pretexto da luta contra o terrorismo, têm sido insistentemente denunciadas como atentados aos direitos e liberdades por organizações sociais que estariam em princípio mais perto das posições dos trabalhistas do que dos conservadores.
Mais do que de uma questão de nomes, o futuro próximo dos trabalhistas britânicos dependerá da sua capacidade para inverter a linha neoliberal do New Labour e regressar a um projecto de sociedade mais consentâneo as suas tradições sindicais.
Logo a seguir à histórica conquista do terceiro mandato, em 2005, Tony Blair declarou que não seria candidato a um quarta legislatura. Desde então que se esperava a sua saída e muitos, cansados de esperar, exigem agora uma clarificação, receando o descalabro nas eleições regionais na Escócia e Gales e nas municipais em Inglaterra, ambas previstas para o próximo ano.
É certo que também desta vez Blair não indicou nenhuma data concreta. Contudo, não só admitiu que a decisão será tomada no próximo ano, como acrescentou que o próximo congresso anual dos trabalhistas, que terá lugar em 24 e 28 de Setembro em Manchester (noroeste da Inglaterra), será o «último» a que assistirá enquanto chefe do Governo e do seu partido.
Para alguns jornais foi o suficiente para especularem quanto a uma data provável para a renúncia. O diário The Sun não tem dúvidas de que ela ocorrerá em 31 de Maio, no que respeita à liderança do partido. Já em relação às funções de primeiro-ministro, aponta o dia 26 de Julho, no encerramento do parlamento, quando se completarão 10 anos e três meses da chegada de Blair ao Governo, em 2 de Maio de 1997. Hipóteses semelhantes são formuladas por outros jornais, todos dando como certo que a demissão só terá lugar após as eleições regionais e locais do próximo ano.
«Guerra» iminente
Também dado como certo, desde há muito, é que o seu sucessor será o ministro das Finanças, Gordon Brown. Contudo, o desejo que este já deixou transparecer várias vezes de que desejaria ter mais tempo para demonstrar as suas qualidades como primeiro-ministro tem azedado as relações com Blair, ao mesmo tempo que se têm extremado as posições entre os seus apoiantes e os blairistas, que já ameaçam lançar candidatos alternativos ao chanceler do tesouro, como John Reid, ministro do Interior, ou Alan Jonhson, secretário da Educação.
Entretanto, a demissão de oito membros do governo, na quarta-feira, dia 6, onde se incluíram o subsecretário de Estado da Defesa, Tom Watson, e outros sete detentores de cargos menores, em ruptura com a liderança de Blair, não pode ser vista como um simples acto isolado, mas antes como o prenúncio de uma «guerra» iminente pela direcção do New Labour, que poderá determinar o afastamento forçado do líder trabalhista, à semelhança do que aconteceu com Margaret Thatcher em 1990.
O futuro dos trabalhistas está no entanto longe de ficar resolvido com uma mera sucessão na liderança do partido e do governo, já que não é plausível atribuir o trambolhão nas sondagens apenas à indefinição de Blair e às dissensões internas.
As políticas liberais conduzidas ao longo de uma década pelos trabalhistas, com base no projecto da chamada «terceira via» desenvolvido por Blair e os seus correligionários, não corresponderam às aspirações dos britânicos nem resolveram os problemas sociais produzidos e agravados pela experiência traumática dos governos conservadores da senhora Thatcher.
A isto soma-se o forte movimento cívico contra a guerra e a condenação geral da opinião pública britânica ao alinhamento do governo como a política de agressão dos Estados Unidos. Por último, refira-se ainda que as alterações introduzidas na legislação, a pretexto da luta contra o terrorismo, têm sido insistentemente denunciadas como atentados aos direitos e liberdades por organizações sociais que estariam em princípio mais perto das posições dos trabalhistas do que dos conservadores.
Mais do que de uma questão de nomes, o futuro próximo dos trabalhistas britânicos dependerá da sua capacidade para inverter a linha neoliberal do New Labour e regressar a um projecto de sociedade mais consentâneo as suas tradições sindicais.